"Os tratores finalmente se colocaram a postos, o sol da manhã a reverberar nos elos da corrente e a fumaça negra dos escapamentos a subir para o céu azul, quase sem nuvens, daquele dia de verão.
Então, os tratores deram a parida e arrancaram. Mas do meio do silêncio da mata, suplantando o barulho das máquinas, centenas de pessoas se levantaram do chão, saíram de seus esconderijos e começaram a cantar.
Os tratoristas, assustados, puxaram os freios de mão.
O confronto era iminente, e as forças, desiguais.
Todos os olhos se voltavam para o chefe da equipe, mas o homem ficou parado, o rosto franzido pela tensão, sem poder acreditar que os seringueiros tinham conseguido trazer tanta gente. Ali deviam estar umas 200 pessoas. E dispostas a ir até o fim, como era costume dos acreanos.
Sem demonstrar o que sentia, fez sinal para que os tratores recuassem. Os dois monstros roncaram e foram se afastando, puxando a enorme corrente que ia levando tudo em seu caminho.
Felizes, os seringueiros aplaudiram."
Trecho de O Empate contra Chico Mendes, de Márcio Souza (página 134)